Thursday 29 November 2012

Expulsão

Sai. Pé na calçada. Pedra fria. Da atmosfera urbana pedregulhada vem um pensamento incessante à mente: "quem fui, durante todo esse tempo?" Ele tenta relembrar alguns fatos primordiais da vida de um ser humano, como por exemplo, qual sua cidade natal, que tipo de música você gosta. Mas não. A cabeça martelava apenas a pergunta hamletiana. Porque se quer ser, precisa de uma base. Porque se não ser, tem de abdicar. A qualquer coisa. Até mesmo a pedra fria da calçada e a tintura descascada dos prédios da capital.

"Porque esse mundo é um embaraço só", sozinho conclui. Mão esquerda, bolso esquerdo: encontra as fibras do tecido de sua calça azul marinho, nada além. Mão direita, bolsos direito. Só fibras de tecido mesmo. Caminha uns três passos. Homem de uniforme, arma na cintura. Segurança do prédio. Não deixa as chaves no guarda volumes, possui apenas a si mesmo. Quer dinheiro. Caneta. Papel. Assinatura. Dinheiro.

Porta de vidro. Ar gélido diretamente na íris. Lacrimeja, o olho. A vida pede. Conseguiu as notas verdes. Dobra a esquina. Então... 

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