Monday 31 August 2009

Minha casa, minha casa. Minha bagunça arrumadinha. Minhas meias em cima da cadeira. A toalha molhada em cima da cama. Eu não tomo jeito mesmo, minha mãe infartaria diante de tal cena. A real é que não quero pensar em minha mãe agora. As mesmas reclamações all the time. Não, thanks.

Faço um café bem forte para afastar pensamentos sórdidos que tenho com Ana. Ah, Ana, a mulher que não permite diminutivos, me chama de idiota e ainda assim eu babo por ela. Meu celular toca estridentemente. É Marcinha, ahhh... não, hoje não. Preciso curar a ferida.

Saturday 29 August 2009

Puta que me pariu. Atrasado, de novo. Por que o trânsito dessa cidade não pode facilitar um pouco a minha vida?

Entrei no escritório com aquela cara de “não precisam parar o que estão fazendo, eu sei o caminho da minha mesa” mas tem sempre um filho da puta (tanto quanto eu pra chegar atrasado na caruda) que alerta minha presença. Marcão. O mais desgracera de todos os colegas de trabalho que eu poderia ter. Baixinho, um tanto quanto obeso, usava camisa pólo desabotoada (claro) e as axilas demandavam água que era uma maravilha. Um nojo estar perto dele.

- Grande _______ ! (sim, essa lacuna é onde deveria ir o meu nome. A autora ainda não decidiu sei lá o que está esperando, de repente uma ajuda do público ou uma inspiração arrebatadora. Que não me chame de nada estranho, please). Atrasado de novo hein!

- Perdi o metrô, Marcão. E aí, trabalhando muito no monitoramento da vida alheia?

Virei as costas e saí em disparada para a minha mesa afundar minha testa no teclado do computador. O que estava acontecendo? Logo eu. Um cara com mais de trinta. Trinta e poucos. Tá, trinta e cinco, que seja. Submetendo-se a essas coisas ridículas, essa lack of responsibility, mas que porra toda era essa?

Senti o cheiro do cafezinho vindo da pequena cozinha localizada aos fundos do escritório. Ah de quê é o escritório? Não sei, a autora ainda também não sabe. Na realidade acho que ela está mais interessada em relatar (e propiciar!) os meus fracassos do que dar detalhes da minha vida. Mas acho que até o final da história ela já me deu um nome e emprego dignos. Pois bem, cheirinho de café. Dona Leninha, a servente daqui do serviço anônimo, sempre passava o café naquela hora. Boa hora, nesse momento. Que papo estranho esse que estou tendo comigo mesmo, whatever.

Creio que já perceberam que eu chamo as mulheres pelo diminutivo, não? E não apenas as que me sinto sexualmente atraído mas também aquelas que sinto um certo apreço. Tal como me sinto pela servente. Quase uma tia. A única que eu não chamo assim tão carinhosamente falsamente é a Ana Carolina. Mulher fodástica, não admitia diminutivos. “Você é tão idiota, fulano”, ela dizia. E eu me derretia feito sorvete em dia de verão...

Thursday 27 August 2009

Ah, manhã. Ah, ar fresco da manhã. Levanto-me lentamente como quem quer ficar grudado na cama pra sempre. Olho-me no espelho. Barba por fazer, cabelos emaranhados. Não quero cortá-los. Não quero cuidar de mim, isso é coisa de guria.

Meu lábio superior parece ter sofrido um corte. Coisa pouca, arranhãozinho de nada. Marcinha, Marcinha... morena impagável.

Mesmo à mercê da mais vária sorte de mulheres minha boca sequer saliva. Aos 20, ah saudoso tempo, eu vivia para salivar! E degustar, e explorar cabelos, pescoços e pernas e arrepios. Sumia no dia seguinte, apanhava na rua. Soninha enfiou a mão na minha cara sem dó nem piedade e eu quieto, baixei a cabeça e segui caminhando. Soninha... gritava assim, na rua, sem medo que eu ia pagar por tudo que lhe fizera. Mas que tudo é esse? Mulheres, enfim.

Ah sim, estávamos a falar sobre a minha boca e o machucado. Tenho lábios finos mas não tão finos a ponto de não serem desejados pelas menininhas que passeiam pelo parque escutando músicas em seus ipod e o caralho a quatro que seja que chamem aquelas quinquilharias. Não sou velho. Sou um cara conservador. Conservador das coisas boas da vida. Gostava de ouvir LP, gostava quando o tempo passava mais vagarosamente. Agora? Tudo voa. Voa tanto que nem senti o corte na minha boca. Marcinha, Marcinha, o que foi que você fez?

Wednesday 26 August 2009

Bem, meu nome? Meu nome é... que importa meu nome? Sou mais um largado no mundo. Uma pessoa comum transitando no meio de pessoas comuns. Bem, deixe-me ver. Já passei dos 30 faz tempo e isso diz muito sobre mim, acredite. Está observando esses dois olhos aqui? Pois então. Meus olhos sempre foram assim miúdos e calados. Ninguém nunca conseguia captar o meu humor só pelo meu olhar pois sempre fora apagado demais. Nunca teve o tal do brilho. Antigamente, podia não haver o brilho mas esses olhos pequenos se encantavam com as coisas do mundo. É! Eu saía na rua e qualquer mínimo movimento do mundo, suas façanhas, os raios do sol, tudo era motivo de festa para a íris.
Hoje não... contento-me com o pesar desses olhos pequenos. Cansaram-se de enxergar coisas que pouco a pouco perderam a luz. A luz que esse olhar nunca teve.