Saturday 1 December 2012

continuando a expulsão

...sentiu algo. Percebeu que é triste porque enxerga o inteiro das coisas. Prédio cinza, casa amarela com fachada branca e janelas marrons, esquisito. Não mais estranho do que simplesmente ter um baque pelo simples ato de olhar de si para si e enxergar o que se poderia chamar de verdadeiro. 

Thursday 29 November 2012

Expulsão

Sai. Pé na calçada. Pedra fria. Da atmosfera urbana pedregulhada vem um pensamento incessante à mente: "quem fui, durante todo esse tempo?" Ele tenta relembrar alguns fatos primordiais da vida de um ser humano, como por exemplo, qual sua cidade natal, que tipo de música você gosta. Mas não. A cabeça martelava apenas a pergunta hamletiana. Porque se quer ser, precisa de uma base. Porque se não ser, tem de abdicar. A qualquer coisa. Até mesmo a pedra fria da calçada e a tintura descascada dos prédios da capital.

"Porque esse mundo é um embaraço só", sozinho conclui. Mão esquerda, bolso esquerdo: encontra as fibras do tecido de sua calça azul marinho, nada além. Mão direita, bolsos direito. Só fibras de tecido mesmo. Caminha uns três passos. Homem de uniforme, arma na cintura. Segurança do prédio. Não deixa as chaves no guarda volumes, possui apenas a si mesmo. Quer dinheiro. Caneta. Papel. Assinatura. Dinheiro.

Porta de vidro. Ar gélido diretamente na íris. Lacrimeja, o olho. A vida pede. Conseguiu as notas verdes. Dobra a esquina. Então... 

Tuesday 26 July 2011

Ninguém mais se interessa por mim. Nem quem me escrevia. O que posso fazer agora?

O quarto está escuro, a luz que passa é a que vem da rua. Buzinas, motos, barulhos me irritam. Não é fácil voltar, mas estou voltando, aos poucos. Quem sabe uma vontade tomou conta de quem me inventou e finalmente vou continuar a ter história. Pois o tédio dela está cada vez mais insuportável. Acertei, oh, Criadora?

Procurando por portas de saída, em vez das de entrada? Comece por aqui.

Thursday 10 September 2009

Meu abobalhamento pela Ana Carolina começou não faz muito tempo não. Quando parei de me preocupar com todos os pares de pernas que passavam pela minha frente, comecei a prestar atenção nela. Sempre séria. Óculos de armação fina, cabelos castanhos presos em um coque lá no alto da cabeça. Para uma bailarina, só faltavam as sapatilhas e a saia engraçada. Esguia, inteligente, não era de mostrar muito o seu belo sorriso embora fosse bem humorada. Idiota, seu xingamento favorito. Era irritantemente incrível como eu me senti atraído por aquela mulher. Ela recém tinha terminado um relacionamento de 6 anos com um cara que trabalhava... (bem, vejamos qual será a idéia mirabolante da autora...) que trabalhava em um cargo público daqueles que a pessoa ganha bastante pra não fazer nada. Político? Não. Algum serviço burocrático. Vejamos... sei lá, era assessor de imprensa do prefeito de São José de Lá Vai Pedra. Pronto.

Aquela mulher não derramou uma lágrima sequer e aquilo me assustou, confesso. Um relacionamento de 6 anos acaba e ela não sai gritando e jogando tudo pelas janelas do escritório? Aí tem coisa. Problema né. Mulher independente só traz problema. E eu quis esse problema para mim.

Wednesday 2 September 2009

Em uma noite de Natal qualquer, há muito tempo atrás, estávamos todos reunidos na varanda a esperar a meia-noite. Eu e meu irmão olhávamos para o céu esperando que o velho de barba branca jogasse lá de cima tudo o que pedimos. Ainda bem que ele não o fez. Havíamos pedido tanta coisa.

Muito tempo depois, muita enrolação por parte dos pais, eis que vejo na frente da minha casa uma bicicleta. Exatamente como eu tinha pedido pro véio! Meu irmão ganhou uma bola de futebol de plástico. Naquele dia eu descobri que ele era adotado.

Monday 31 August 2009

Minha casa, minha casa. Minha bagunça arrumadinha. Minhas meias em cima da cadeira. A toalha molhada em cima da cama. Eu não tomo jeito mesmo, minha mãe infartaria diante de tal cena. A real é que não quero pensar em minha mãe agora. As mesmas reclamações all the time. Não, thanks.

Faço um café bem forte para afastar pensamentos sórdidos que tenho com Ana. Ah, Ana, a mulher que não permite diminutivos, me chama de idiota e ainda assim eu babo por ela. Meu celular toca estridentemente. É Marcinha, ahhh... não, hoje não. Preciso curar a ferida.

Saturday 29 August 2009

Puta que me pariu. Atrasado, de novo. Por que o trânsito dessa cidade não pode facilitar um pouco a minha vida?

Entrei no escritório com aquela cara de “não precisam parar o que estão fazendo, eu sei o caminho da minha mesa” mas tem sempre um filho da puta (tanto quanto eu pra chegar atrasado na caruda) que alerta minha presença. Marcão. O mais desgracera de todos os colegas de trabalho que eu poderia ter. Baixinho, um tanto quanto obeso, usava camisa pólo desabotoada (claro) e as axilas demandavam água que era uma maravilha. Um nojo estar perto dele.

- Grande _______ ! (sim, essa lacuna é onde deveria ir o meu nome. A autora ainda não decidiu sei lá o que está esperando, de repente uma ajuda do público ou uma inspiração arrebatadora. Que não me chame de nada estranho, please). Atrasado de novo hein!

- Perdi o metrô, Marcão. E aí, trabalhando muito no monitoramento da vida alheia?

Virei as costas e saí em disparada para a minha mesa afundar minha testa no teclado do computador. O que estava acontecendo? Logo eu. Um cara com mais de trinta. Trinta e poucos. Tá, trinta e cinco, que seja. Submetendo-se a essas coisas ridículas, essa lack of responsibility, mas que porra toda era essa?

Senti o cheiro do cafezinho vindo da pequena cozinha localizada aos fundos do escritório. Ah de quê é o escritório? Não sei, a autora ainda também não sabe. Na realidade acho que ela está mais interessada em relatar (e propiciar!) os meus fracassos do que dar detalhes da minha vida. Mas acho que até o final da história ela já me deu um nome e emprego dignos. Pois bem, cheirinho de café. Dona Leninha, a servente daqui do serviço anônimo, sempre passava o café naquela hora. Boa hora, nesse momento. Que papo estranho esse que estou tendo comigo mesmo, whatever.

Creio que já perceberam que eu chamo as mulheres pelo diminutivo, não? E não apenas as que me sinto sexualmente atraído mas também aquelas que sinto um certo apreço. Tal como me sinto pela servente. Quase uma tia. A única que eu não chamo assim tão carinhosamente falsamente é a Ana Carolina. Mulher fodástica, não admitia diminutivos. “Você é tão idiota, fulano”, ela dizia. E eu me derretia feito sorvete em dia de verão...